O Sr R era um sociopata da pior espécie. Deixemos até o "Sr" de lado, porque R não merece essa delicadeza. Era um verdadeiro mentiroso compulsivo, daqueles que só mostram o que são, à custa de grandes investidas do outro lado.
Diana, essa doce heroína citadina, conhecia-o desde sempre. Tinham feito o ensino básico juntos, tinham sido amigos. Na altura, R era apenas um puto desorientado e meio gordinho, mas os anos encarregaram-se de o tornar num homem alto, bonito e charmoso. Um verdadeiro chamariz, para um coração partido.
Quando se reencontraram, ao fim de todos aqueles anos, R tinha acabado de assumir o cargo de director comercial numa grande farmacêutica. Numa noite quente de outono levou-a a jantar num dos sítios mais
in da cidade, o bastante para o clique acontecer. Aquela semana que teria certamente sido monótona e cinzenta, tornou-se numa verdadeira roda viva.
Por aqueles dias, o cérebro de Diana estava completamente entorpecido. Entre charros e riscos de neve, os dois viveram nos lençóis. Foderam até mais não e perderam necessárias horas de sono...
Teria sido bom terminar por aqui, sem necessidade de despedidas ou explicações, mas R tornou-se incapaz de viver sem fazer dramas. Prometeu-lhe o mundo! Em duas semanas de loucuras, prometeu-lhe uma vida para os dois, uma família... E depois foi embora. Sem nada lhe dizer, seguiu para Luanda a trabalho! Não falaram durante 1 mês.
Diana não engoliu aquela história, telefonou-lhe, e descarregou 30 dias de frustrações acumuladas via linha telefónica. R estupidificou-a, virou o bico ao prego. Acusou-a de o ter deixado, de não lhe atender o telefone, de o trair com outro. Argumentou como um bom comercial e mentiu até levar Diana ao limite. Desligaram o telefone e não mais se falaram ou encontraram.
Alguns anos depois, numa noite gélida de inverno, Diana resolvera sair com uma amiga. Enquanto percorriam uma rua escura para chegar ao novo bar de gins, um homem passou por elas. Raspou em Diana, mas ela não lhe conseguiu ver o rosto e o casaco que trazia deformava-lhe o corpo. Diana começava naquele momento a sentir os efeitos do charro que tinha fumado na rua minutos antes. Talvez por isso, com o olfacto mais apurado, lhe tivesse reconhecido o cheiro, mesmo depois de todos aqueles anos.
Não resistiu, tal como as crianças que tocam as campainhas e fogem, chamou-o:
- R!
Era realmente ele e voltou-se para trás ao reconhecer o seu nome, mas não disse nada.
- Desculpa!
Diana entrou no bar com a amiga e bebeu um Hendricks. Essa noite, ao chegar a casa, apenas adormeceu tranquilamente...