A Diana já vivia há demasiado tempo sozinha.
Naquela noite, chegada a casa depois de umas boas horas a suar no ginásio, encontrara a sala vazia. Os seus saltos altos, que lá fora usara para fingir uma segurança enorme, ecoaram no espaço frio e pouco habitado. Sem jantar, abriu apenas uma garrafa de Duas Quintas, o tinto da sua preferência, e bebeu-o numa tentativa de atenuar a dor de quem sente o coração a fechar-se. Inebriada, entrou num prolongado e sério monólogo que lhe permitiu ouvir a sua voz a encher o espaço aberto; entre duas passas dadas num charro esquecido, surgiu outra personagem que lhe mostrou um sorriso irónico e macabro. A outra estava ali apenas para contrapor os seus argumentos e levá-la à loucura.
Incapaz de sair daquele
loop esgotante, em luta com ela própia, saiu para a noite, saiu para a caça... As suas últimas relações tinham sido insípidas, sem calor e sem tesão. Desde a última vez que tinha sentido uma penetração forte e intensa já tinham passado alguns anos, e ansiava por cair nos braços de um homem que a pudesse fazer feliz por algumas horas.
Aquela noite apenas encontrou luzes frias e um barulho ensurdecedor. Acordou sozinha por volta da uma da tarde, levantou-se e sentiu humidade num dos olhos. Não percebeu de onde tinha saído aquela lágrima.